Quem viveu os conturbados anos 1980 no Brasil certamente se recorda da turbulência econômica que assolava o país, marcando a era como a “década perdida”. Esse período caótico, pós-redemocratização, é habilmente explorado no filme “O Sequestro do Voo 375”, dirigido por Marcus Baldini (conhecido por “Bruna Surfistinha”). A trama, baseada em um caso real, mergulha na complexidade da sociedade brasileira da época, trazendo à tona um crime esquecido que ecoou como um “11 de setembro brasileiro”.
O enredo segue a vida de Nonato, interpretado brilhantemente por Jorge Paz (Cangaço Novo), um maranhense humilde desiludido com as promessas vazias do presidente da época, José Sarney. Cansado de lutar para sustentar sua família em meio à instabilidade econômica, Nonato decide tomar medidas extremas: sequestrar um avião com o objetivo de colidir contra a sede dos Três Poderes em Brasília e, assim, atingir o coração do poder político.
O diretor Baldini opta por uma abordagem simples e direta, destacando a jornada de Nonato em seu ato desesperado. O protagonista não busca fama ou riqueza, apenas deseja expressar sua revolta contra um sistema que o deixou à margem. A empatia com o “vilão” é estabelecida desde o início, proporcionando uma complexidade surpreendente ao personagem.
A performance de Danilo Grangheia (Irmandade) como o comandante Murilo é digna de nota. O embate entre Murilo e Nonato se torna o cerne da narrativa, com momentos de tensão que cativam o espectador. Grangheia transita habilmente entre a figura comum e o herói improvável, adicionando camadas à trama e garantindo o sucesso do filme.
Jorge Paz, por sua vez, entrega uma interpretação envolvente de Nonato, capturando sua raiva e ingenuidade de maneira convincente. A química entre os dois atores é palpável, elevando a experiência cinematográfica a um nível mais profundo.
O elenco ainda conta com a presença marcante de Roberta Gualda (O Rei da TV), que desempenha o papel de uma agente da Força Aérea Brasileira envolvida nas negociações. Sua atuação calma e persuasiva contribui para a resolução do conflito, adicionando um elemento adicional à trama.
A escolha de ambientar quase toda a história dentro do avião revela-se acertada, mantendo uma atmosfera tensa ao longo do filme. Os jogos de câmera são habilmente utilizados para destacar as expressões dos personagens, intensificando a angústia dos passageiros e a desesperança de Nonato.
Entretanto, um ponto fraco notável reside nos efeitos especiais, que ocasionalmente quebram a imersão ao evidenciar a artificialidade das cenas aéreas. Este aspecto, no entanto, é compensado pela trama envolvente e pela habilidade do diretor em explorar a história real por trás do filme.
O verdadeiro mérito de “O Sequestro do Voo 375” reside na ressurreição de um crime esquecido, um episódio que pode ser considerado o “11 de setembro brasileiro”. A obra presta homenagem ao comandante Murilo, um herói injustiçado na época do ocorrido, enquanto joga luz sobre os eventos que precederam o atentado estadunidense.
O filme, apesar de alguns tropeços nos efeitos especiais, emerge como um título de ação digno, destacando-se pela narrativa envolvente e pelas performances sólidas do elenco. “O Sequestro do Voo 375” não apenas entretém, mas também resgata um capítulo esquecido da história brasileira, convidando o público a refletir sobre os tumultuados anos 1980 e as circunstâncias que levaram a um ato desesperado nas alturas. O lançamento nos cinemas em 07 de dezembro promete transportar o espectador de volta a uma época marcante da história nacional.